malafaia lewis

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No Facebook, sou alertado pelo Livan Chiroma a respeito do programa de Silas Malafaia do último sábado, 20 de abril. Entre bravatas, “desafios a toda a nação” autopropagandas, televendas de todo tipo, aplausos da plateia para qualquer espirro mais “ungido”, e vários malafaias sendo vendidos em diversos ramos do entretenimento gospel, há o que parece ser um encontro de líderes da Associação Vitória em Cristo. Alguns trechos do sermão:

“Hoje eu levo minha família toda (a hotéis quatro estrelas) e não tô nem aí. Não tô roubando. Não tô nem aí pra você, ô mané, que tá me assistindo (…) Eu não vou deixar de usufruir do lugar vitória porque eu sei o preço que eu paguei e que eu tenho pago”. “Aqui tem três mil pessoas que o hotel e a pensão completa é bancada pelo meu ministério. Quer falar, fale”. “Você quer saber o valor do meu anel? Quatro mil dólares. Com meu dinheiro”. “Tá vendo o Mercedes e500, blindado na Alemanha? Foi um parceiro meu que me deu de presente de aniversário”.

Longe de mim confrontar o célebre comunicador gospel, até porque os que assim o fazem são definidos por ele como “ímpios travestidos de crente”, e não quero essa pecha. Só faria um parêntese para recomendar esse estudo do pastor americano Mark Driscoll a respeito de mordomia cristã. O conceito de “mordomia”, basicamente, defende que o que temos não é nosso – é de Deus, que nos incumbiu de administrar, não para o nosso usufruto, mas de acordo com os interesses do reino dele.

Mas longe de mim dizer que o Malafaia está completamente fora de 2 mil anos de teologia cristã.

Malafaia dispensa opiniões, e seus seguidores parecem ser imunes a elas. Assim, para não desperdiçar meu tempo nem o seu, o que queria é contar uma história a respeito de Clives Staples Lewis (1898/1963) que me veio à mente assistindo aquele espetáculo religioso-televisivo. Lewis, como se sabe, é considerado o maior pensador cristão do século 20, professor da universidade de Oxford, colega de JRR Tolkien, autor da saga Crônicas de Nárnia e de um dos maiores best-sellers de todos os tempos, Cristianismo Puro e Simples.

No livro póstumo Letters to american Lady, de 1967, há uma troca de cartas entre Lewis e uma mulher americana a quem o escritor tentava ajudar financeiramente. Depois de muito insistir, e depois de conseguir achar meios tributários de enviar o dinheiro, finalmente, a mulher aceitou a ajuda, dizendo: “Bem, eu vou aceitar então, e muito obrigada. Não me admira que Deus tenha te abençoado tanto lhe dando tanto dinheiro.”

Lewis não se conteve e respondeu à mulher: “Cuidado com os seus pensamentos em relação a isso. Em nenhum lugar no meu novo testamento eu vejo o dinheiro descrito como uma bênção. Na verdade, Jesus diz algo completamente diferente. Ele fala sobre o engano das riquezas (“mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera”, Marcos 4.19). Cristo diz que é quase impossível para um homem rico entrar no reino dos céus (“E, outra vez, vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”, Mateus 19.24). O que você chama de bênção, tem um poder muito maior para destruir. Na verdade, eu preciso te dar este dinheiro, ou ele provavelmente me destruiria. Não olhe para homens com recursos vendo nisso a prova de serem abençoados. Provavelmente, isso é a marca de sua maldição eterna.”

Agradeço ao Senhor porque, se há Silas Malafaia, há também C.S. Lewis, e as trevas de um não conseguem ofuscar o brilho de outro. Pelo contrário, só o reforçam. Como dizia São Francisco de Assis, um único raio de sol já basta para afastar muitas sombras.

Que eu tenha olhos bons para olhar para os exemplos que podem iluminar meu caminho e o caminho dos que estão à minha volta