Esse texto foi publicado agora pela manhã pelo genial Donald Miller no blog que criou para divulgar seu novo livro “Storyline”. Não consegui conter o impulso de traduzi-lo. Aos que já leram meus livros, aos amigos que estão escrevendo e aos curiosos pela arte da escrita, garanto que é EXATAMENTE como ele explica. Grande Donald Miller.

Segundo Don Miller, alugar uma cabana como esta é parte muito importante do processo literário

Eu li muitos livros sobre a arte de escrever. Meus favoritos são On Writing Well de William Zinsser, Palavra por palavra, de Anne Lamott e A Guerra da arte, de Steven Pressfield. Todos livros fantásticos.

Pensei, então: vou compartilhar meu plano de cinco passos para escrever um livro. Aqueles livros são legais, mas esta é a verdade verdadeira.

Use-o como achar melhor, mas isso é realmente como o processo acontece:

1. Comece com uma idéia incrível: Saiba em sua cabeça que este livro vai ser um best-seller flamejante e vai mudar o mundo. Irrite seus amigos repetindo sempre essas coisas. Quando eles estiverem muito irritados, resmungue entre dentes em alguma conversa casual sobre como o seu livro coincidentemente responderá à questão em discussão, ou qualquer coisa do tipo. Continue o processo por cerca de um ano antes de começar a escrever. É importante.

2. Uma vez por mês, sente-se para trabalhar no livro: Vá a algum café e ligue seu laptop em uma mesa perto da janela. Olhe pelo vidro em busca de inspiração e observe quantos motociclistas param no sinal da faixa de pedestres em frente ao café. Pense por um longo tempo sobre o quão difícil para um motociclista é ter de parar uma moto para, em seguida, reiniciá-la, e quanto tempo levaria para que ele atravessasse toda a cidade parando religiosamente em todos os semáforos. Dê um google para descobrir em quanto você seria multado se fosse pego furando o sinal. Deixe o café sem ter escrito. Ponha a culpa no pão doce que te embebedou de açúcar. Prometa a si mesmo que da próxima vez que você for até lá para escrever não vai pedir pão doce.

3. Pesquise na internet por imagens que você pode usar para uma capa: Veja os livros na Amazon, estude suas capas. Imprima uma das capas e rasure o nome do autor para escrever o seu no lugar. Use Liquid Paper, se você conseguir encontrar um vidrinho. Cheire o Liquid Paper e se questione quando foi que começaram a colocar o produto químico que faz com que aquilo cheire tão mal. Limpe o Liquid Paper do seu nariz com o guardanapo que você trouxe do café. Ponha a culpa de não conseguir escrever na overdose de açúcar e no fato de ter cheirado Liquid Paper.

4. Alugue uma cabana: Esse assunto (o livro) está ficando sério. É a hora. Use bem o seu suado dinheiro e aplique-o metendo-se num buraco na floresta para escrever. Leve consigo uma cópia de Walden de Henry Thoreau. Em seguida, acompanhe obsessivamente quem está te seguindo no Twitter durante metade do primeiro dia. Fique com raiva de si mesmo por se distrair tanto e atire o telefone no meio do mato como um sacrifício em favor do seu ofício. Vá para a cama jurando que no dia seguinte você vai realmente começar a escrever.

5. Passe a manhã seguinte remexendo os bosques à procura de seu telefone: Quando você encontrá-lo e ele não funcionar, volte para a cabine, deite-se no chão da cozinha, preferencialmente um gelado chão de ladrilhos. Do chão, olhe para cima, procure o forno com os olhos e lamente o destino de Sylvia Plath. Deseje, porém, que você possa ter um livro publicado como ela teve, antes que tirasse a própria vida. Questione-se sobre o quão feliz ela deve ter sido por ter um livro publicado, tão feliz que acabou tirando a própria vida. Arrume sua mala e volte para casa, sem ter escrito nada.

Bem, se você repetir estes passos por cerca de 18 meses, no final do processo você terá um livro pronto. Não sei bem sobre como a parte de escrever acontece, não me lembro direito, mas o fato é que um livro aparece.

É claro que essa parte, a de escrever, é difícil. Escrever é lutar com a sua sanidade mental, às vezes. E haverá dias ruins em que você se sentirá derrotado. É um trabalho mais difícil do que escalar montanhas, porque é um trabalho que a gente faz no escuro. Quero incentivá-lo a continuar. Você importa e suas palavras importam. Quando você escreve, você está dizendo a Deus: “Eu concordo contigo, o senhor me deu uma voz e esse presente não foi em vão”. Ao escrever, você está se exibindo no palco da vida, em vez de sentar-se nas confortáveis poltronas do teatro (há tempo para ambas as coisas) e está lançando sua voz para um público que está à procura de um personagem para se identificar, alguém para guiá-lo através de sua própria solidão, não importa o quão transparente ou oculta a solidão está.

E por isso, se você se encontra no chão da cozinha (aqui eu não estou mais brincando; quero dizer, no sentido sylviaplathiano da coisa, se você está desesperado de verdade), por favor, saiba que você não está sozinho. Assim, muitos escritores têm estado lá. E aqueles cujas vozes continuam a ecoar através do teatro se levantam do chão, voltam para suas mesas e oram novamente por palavras. Que eles venham até você. E que elas possam ser presentes para nós.